Crônicas da cidade: Lugar ao sol.

by - terça-feira, agosto 30, 2016

Obtive uma fuga do natural.
Despretensiosamente, cogitei a ideia de que não exista um lugar ao sol para todos.
Izabel percebeu que já era tempo de esquecer as histórias utópicas, seus super-heróis, o sonho de criança e a esperança de dias melhores. Afinal, a melhora é apenas uma expectativa,não um estado.
Chegou em casa, tirou suas meias surradas e pôs uma pantufa, sentindo-se com 70 anos. Ligou seu notbook, pegou a xícara de café amargo e começou a vagar por sua vida virtual. Quantos sorrisos ilusórios e finais de semana inesquecíveis na tela azul. Uma curtida, dois comentários, lágrimas em silêncio.
Derramou-se num estado de profundo ressentimento, por situações que ainda não viveu. Chorou, por longos minutos, pela vida que criou e tampouco viveu. Agonizou por entre os traços da memória, daquelas que se assemelham a fotos amareladas, no porta retrato empoeirado da estante esquecida.
Seu sorriso tão pouco importava. Quem vive na escuridão não precisa de reconhecimento – tão pouco o
tem. Nem todos conseguem um lugar ao sol: é preciso acostumar-se com a sombra.
Limpou as lágrimas e publicou sua última foto, num misto de narcisismo e angústia. Um perfeito retrato do encantador desespero humano.


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